Reflexões sobre o Minivoleibol: Uma Perspetiva dos sistemas, das metodologias e a importância da dimensão do campo e da rede
Hoje, tivemos a oportunidade de assistir a mais um torneio de minivoleibol. Desta vez, dedicámos uma atenção especial ao formato 4×4. Devemos dizer que ficámos muito agradados com o nível técnico apresentado no torneio.
Ao longo do dia, várias ideias nos ocorreram – algumas delas já nos tinham ocorrido antes, mas nunca as tinhamos articulado. O nosso objetivo ao partilhar estas reflexões é simplesmente estimular o pensamento e a discussão. Dizemos isto com humildade, pois hoje havia muitos treinadores mais qualificados do que nós presentes.
Primeiro, gostaríamos de enfatizar a importância de dar sentido ao que se faz e de fazer a transição para a competição infantil subsequente. Segundo, achamos que devemos considerar uma abordagem no 4×4, com sistemas de jogo que incluam side-out, transição e freeball ou até especificar mais.
Defendemos uma abordagem sistémica, sempre tendo em conta a capacidade dos atletas de cumprir as tarefas. É essa capacidade que nos permite aspirar a sistemas mais complexos e a um maior número de competências. Somos sempre a favor dos níveis de desenvolvimento e de um projeto de atleta a médio-longo prazo.
Observamos que a organização dos side-outs é quase totalmente numa estrutura 1:2:1. Por que não considerar uma estrutura 1:3, ou um 2+1 (libertando um atacante recebedor), ou mesmo, sendo mais ambicioso, uma estrutura 0:3 com penetração?
Na transição, vemos uma estrutura em losango, sem bloco ou com bloco individual, num quadrado móvel, onde por norma quem faz bloco é quem está no meio, com uma defesa em perímetro ou rotacional. Por que não considerar a transição em quadrado fixo (z4+z3) ou (z3+z2), com bloco duplo quando os atacantes adversários são fortes? Por que não incluir ataque na zona 3, seja em losango ou quadrado fixo ou mesmo em 3:1?
Acreditamos que a riqueza desta diversidade pode trazer algo mais e aproximar-nos mais daquilo que se vai pedir em infantis. Com um 4×4, podemos fazer quase tudo o que faremos no 6×6.
Não nos podemos esquecer que cada vez mais, na alta competição temos sistemas híbridos, que pretendem dar respostas diferenciadas e personalizadas aos constrangimentos que lhes são apresentados ou mesmo para os criar para os oponentes. Nesse sentido quando maior for a riqueza motora (técnica e tática), melhor será o desempenho do jogador, maior vai ser a capacidade do atleta para responder assertivamente aquilo que o jogo lhe pede a cada momento.
Há duas coisas que consideramos importantes nestes escalões iniciais: 1) dar ênfase ao trabalho sem bola e 2) executar uma ação e preparar-se para a ação seguinte. Por exemplo, passar e proteger, atacar e preparar logo a base de bloco, blocar, sair da rede e preparar o ataque.
O facto de termos feito, enquanto treinadores, o processo de forma vertical (minis a seniores) várias vezes, faz com que tenhamos uma visão global do processo de desenvolvimento do atleta.
No minivoleibol é importante definirmos o que queremos, se pretendemos formar atletas adaptativos e muito decisionais, a médio e longo prazo, pensamos ser importante incutir desde o início do processo estes aspetos, tanto no treino como no jogo reduzido. Estamos a falar de jovens atletas com algum tempo de prática que neste momento já treinam 3x, alguns 2h por treino, o que permite pensarmos em objetivos mais ambiciosos e passar para etapas de desenvolvimento mais avançadas. Com isto, não estamos a falar de especialização precoce, pelo contrário, estamos a promover um atleta global.
No voleibol, em qualquer dimensão, há dois fatores muito importantes: o tempo e o espaço e o domínio dos mesmos é crucial. A importância de promover diferentes tipos de estímulos, bolas com trajetórias mais altas, mais baixas, na ponta, no meio, na frente, nas costas, bolas enroladas, prensadas, serviços em apoio, em salto e muito mais, contribuem para a complexidade e a dinâmica do voleibol, exigindo dos jovens jogadores uma ampla gama de habilidades e uma boa compreensão do jogo. Além disso, a capacidade de executar e responder a esses diferentes estímulos é crucial para o sucesso no voleibol.
Vamos fazer aqui um exercício: um atleta que já domine a corrida preparatória e a chamada de ataque, aprende a realizar o remate mais facilmente com passes de ataque muito altos ou mais baixos? Quantas bolas rápidas vimos no minivoleibol? Também não são importantes? Transpondo isto para o topo da pirâmide, em receções com bolas A, qual o tipo de ataque mais preconizado? E acontece porquê? Numa lógica de progressão que nos guia sempre ao longo de tudo, não podemos começar a estimular desde cedo estes fatores? Não deverão ser tidos em conta no planeamento do treino? Mais uma vez chamamos à atenção que isto não é estar a queimar etapas, nem a especializar, é permitir que estímulos que vão ser solicitados futuramente sejam promovidos desde cedo, por exemplo, por que não treinarmos desde cedo deslocamentos com passo caçado, com passado cruzado e misto?
Mas peço que façam outro exercício e olhem para a diferença entre o jogo de minivoleibol feminino e masculino e que nos digam o que é que o diferencia nestes estados iniciais e será que não se podem fazer alguns transfers?
Sobre a dimensão e formato dos campos, bem como sobre a dimensão da rede, ficam aqui algumas ideias, dividindo as mesmas no processo de treino e na competição.
No que diz respeito aos campos, durante o processo de treino, devem ser utilizadas variadas formas de campos. Campos compridos e estreitos podem privilegiar estruturas de 1:1, o deslocamento antero-posterior, a finalização em comprimento e a precisão da finalização em largura. Por outro lado, campos mais curtos e largos promovem os deslocamentos laterais, a finalização em largura, a precisão da finalização em comprimento, a finalização nas costas e estruturas 0:2.
Se preconizarmos campos assimétricos (maiores de um lado do que do outro), podemos solicitar maior precisão na finalização e deslocamentos e grandes zonas de responsabilidade por parte de quem está no campo grande. Quem está num campo mais pequeno não necessita de tantos deslocamentos para intervir, a sua zona de responsabilidade é menor e permite finalizações mais fortes. Esta situação é uma boa hipótese para quem tem grupos heterogéneos no treino, assim consegue equilibrar mais, pois tem zonas de responsabilidade muito distintas e que se podem adequar a diferentes níveis de desempenho.
Numa fase inicial, para estimularmos o remate e os deslocamentos, uma boa estratégia é utilizar campos grandes.
No que diz respeito à rede, no treino com esta baixa, privilegiamos o remate e o bloco, muito importantes e estimulantes numa fase inicial. Com a rede alta, privilegiamos a continuidade, o volume das ações, crucial para consolidarmos os gestos técnicos.
Mas antes de falar da dimensão dos campos e rede nos jogos de minivoleibol, em situação de competição, acho que mais importante seria a preocupação de definir regras didáticas e pedagógicas de acordo com o nível de desenvolvimento dos atletas. Defendemos uma competição por níveis de desempenho, diferenciadas, com regras específicas, ajustadas a cada um, por exemplo, que promovam a sustentação de bola em minis A que estão a iniciar a modalidade (por exemplo, preensão de bola no 1º toque, duplo toque ao 1º toque, etc).
Na definição destas regras, obviamente que a altura da rede e a dimensão do campo teriam de ser graduais. Na nossa opinião, no último estado da competição 4×4, no mínimo, um campo de 14mx7m e uma rede a 2,10m, isto no feminino e 15mx7,5m e uma rede a 2,15, no masculino. Na competição de 2×2, nunca menos de um campo de 8mx4m num estado mais avançado.
Pretendemos assim ir ao encontro daquilo que defendemos no processo de treino e talvez de forma mais específica cumprir os seguintes objetivos: promover as ações de finalização em remate, aumentar zonas de responsabilidade, permitir trajetórias mais longas, serviço mais longo, aproximar dimensões de campo e de rede do escalão infantil e muito mais… nomeadamente situações organizacionais defensivas e ofensivas que obriguem a mais movimentações para ocupação racional do espaço.
São algumas ideias, há sempre muito que analisar, há muitos prós e contras em todas as situações. Reforçamos que as regras a definir têm de ter em conta o masculino e o feminino. Se é positivo termos muita sustentação, que permite volume e consolidação, também é importante promover finalizações em remate, com um jogo mais “agressivo” ofensivamente, que é muito apelativo para os jovens e que obrigue a outras adaptações e a um estado defensivo mais evoluído, com bloco duplo (deslocamentos vários e começar desde cedo a introduzir esta ação técnica tão complexa – dizemos nós), com ligação defesa alta e baixa mais próxima do 6×6 e muito mais…
Vale o que vale, é uma reflexão curta que partiu de três desabafos e que face a um pedido, se juntaram num só, tentando manter a coerência. Resumindo, ficou aqui um jogo reduzido condicionado.
Hugo e Nuno Maria
este e outros artigos de opinião em:
https://www.instagram.com/coachugoenunomaria/
Em primeiro lugar, PARABÉNS por todas as informações preciosas para a evolução do “nosso” MINI VOLEIBOL.
Tenho certezas e dúvidas durante todo o processo de ensino aprendizagem com os mais novos, que vão sendo enriquecedoras a cada nova dificuldade.
Não posso afirmar que o 3×3 dos italianos, ou o SMASH BALL será melhor que o nosso 4×4, mas posso com certeza afirmar o seguinte:
1. NÃO PODEMOS EVOLUIR SEM COMPETIÇÃO NOS MINIS DE ÚLTIMO ANO (formato nacional desajustado)
2. ANTES DISTO DEVERIAM SER APENAS TORNEIOS SEM CLASSIFICAÇÃO
3. GIRA VOLEI NÃO CONSIGO ENTENDER PARA QUE SERVE?
4. ALTURA DA REDE (2,15 MINIS B FEM)…apenas quero falar do feminino.
5. ATLETAS MINIS PODERIAM SUBIR E DESCER DE ESCALÃO (MINIS – INFANTIS)
6. FORMATO DE JOGO 4 X 4 com total liberdade (todos atacam, serviço andorinha, jogo por pontos e não por tempo).
7. Não perder tempo com encontros de níveis desajustados (equipa A que joga contra uma equipa F).
8. Criar uma competição ajustada (regionais e um campeonato NACIONAL prolongado de primeira e segunda divisão)
9. fase final de minis – 4 dias de grande festa
10. O treino será importante, mas sem competição…nada feito!
11. Dar continuidade no VERÃO – quadros dedicados na praia
12. Avaliação e deteção de talentos para seleções desde MINIS.
ESPERO TER COLABORADO.
Grande abraço